Algumas pessoas provavelmente logo vão responder que sim. Afinal, como não reconhecer um abusador? Como não reconhecer um relacionamento abusivo? "Óbvio que sei identificar", algumas vão dizer. Porém, não é raro chegar ao consultório pessoas, em sua maioria mulheres, que não sabiam que estavam em relacionamentos abusivos.
Por amar demais a outra pessoa, às vezes por questões de auto estima, a pessoa não consegue identificar o que estava acontecendo com ela. Algumas vezes, a primeira resposta é: ele não me bate.
O que caracteriza um relacionamento abusivo não é só a violência física, mas há também a violência moral, psicológica, sexual, patrimonial e econômica. Muitas pessoas não se dão conta de que o abuso possui diversos lados, não apenas o físico, e acabam ficando presas em relações complicadas.
Geralmente, uma relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal estar. E muitas vítimas usam isso como desculpa: se ele não era assim, ele vai mudar; eu acredito na mudança; vou salvá-lo dessa situação; ele está apenas passando por um momento difícil na vida.
Aqui estão algumas formas que a pessoa abusiva pode agir e você não se dar conta de que é um abuso:
- Zomba ou constrange você na frente dos amigos e da família
- Minimiza suas conquistas ou não incentiva você a conquistar seus sonhos
- Faz com que você se sinta incapaz de tomar decisões
- Usa da intimidação, culpa e ameaças para obter sua complacência
- Diz o que você deve ou não vestir
- Fala como deve deixar ou pentear o cabelo
- Diz que você não é nada sem ele ou que ele não é nada sem você
- Te trata de maneira grosseira sem o seu consentimento, beliscando, agarrando, empurrando ou até agredindo
- Faz várias ligações por noite ou aparece para garantir que você está onde disse que estaria
- Usa as drogas e álcool como desculpa para dizer coisas indelicadas ou para abusar de você
- Te culpa pela maneira com que age ou se sente
- Faz pressão para fazer sexo, mesmo que você ainda não se sinta preparado
- Dá a sensação de que “não há como sair” do relacionamento
- Evita que você faça outras coisas que gosta, como ficar perto da família e de amigos
- Não deixa que saiam de um lugar após uma briga ou abandona você em algum lugar após um desentendimento, só para “ensinar uma lição”
É difícil definir quando um relacionamento é abusivo, porém, os principais indicativos de uma pessoa abusiva são: ciúme e possessividade exagerados; controle sob as decisões e ações do parceiro; querer isolar o parceiro até mesmo do convívio com amigos e familiares; ser violento verbalmente e/ou fisicamente; e pressionar ou obrigar o parceiro a ter relações sexuais.
As principais dificuldades de sair desse tipo de relacionamento costumam ser:
- Emocionais e afetivas: insegurança e incerteza diante do que virá, medo de ficar desamparado (a), medo de reações provenientes do parceiro, crença de que o parceiro poderá mudar as atitudes e “ser uma boa pessoa”, medo de ficar sozinho (a), crença de que não conseguirá se restabelecer e seguir em frente.
- Questões legais e jurídicas: desgaste relacionado ao tempo e à burocracia, falta de conhecimento por parte das vítimas sobre o que ocorre entre a denúncia e a sentença.
- Sociais: a relação abusiva pode ter isolado a vítima e a mesma pode estar distante dos seus familiares e amigos.
- Econômicas: principalmente quando a vítima depende do parceiro.
Somado a tudo isso, na Pesquisa DataSenado 2013, 30% das mulheres disseram não confiar nas leis e nas medidas formuladas para protegê-las da violência. Somado a tudo isso, a nossa sociedade persiste na cultura da culpabilização das vítimas.
Pode ser difícil sair desse tipo de relacionamento, mas não impossível. Procurar ajuda psicoterápica, grupos terapêuticos, jurídica, psiquiátrica; além de familiares e amigos de sua confiança, podem facilitar bastante esse processo. O importante é lembrar que sempre há uma saída.
Escrito por:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.