quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Janeiro Branco 2018 - a importância de cuidar da saúde mental


Com o final de janeiro encerramos também o Janeiro Branco, mas isso não significa que ele ficará esquecido até o próximo ano. A cada ano que passa o Janeiro Branco se fortalece e toca a vida de pessoas que não se preocupavam com sua saúde mental, que achavam que era besteira... A mobilização aumenta para que as pessoas se importem, cuidem da sua saúde mental como cuidam da saúde física. E essa mudança está acontecendo.

A Campanha Janeiro Branco é dedicada a convidar as pessoas a pensarem sobre suas vidas, o sentido e o propósito das suas vidas, a qualidade dos seus relacionamentos e o quanto elas conhecem sobre si mesmas, suas emoções, seus pensamentos e sobre os seus comportamentos.

Coloca os temas da Saúde Mental em máxima evidência no mundo em nome da prevenção ao adoecimento emocional da humanidade. Se dedicada a sensibilizar as mídias, as instituições sociais, públicas e privadas, e os poderes constituídos, públicos e privados, em relação à importância de projetos estratégicos, políticas públicas, recursos financeiros, espaços sociais e iniciativas socioculturais empenhadas(os) em valorizar e em atender as demandas individuais e coletivas , direta ou indiretamente, relacionadas aos universos da Saúde Mental.

Uma Campanha pensada, planejada e projetada para a promoção de Saúde Emocional nas vidas de todos os indivíduos, buscando estratégias políticas, sociais e culturais para que o adoecimento emocional seja prevenido, conhecido e combatido em todos os campos, esferas, dimensões e espaços em que o humano se faz presente. Sim – ações, orientações e reflexões a respeito das condições e características emocionais dos seres humanos mudam e salvam vidas.

Porque há sofrimentos que podem ser prevenidos. Dores que podem ser evitadas. Violências que podem ser impedidas, cuidadas ou reparadas. Exemplos que podem ser partilhados. Ensinamentos que podem ser difundidos em nome de pessoas mais saudáveis e mais bem resolvidas em termos emocionais.…

Os 5 objetivos da Campanha Janeiro Branco:

1 – Fazer do mês de Janeiro o marco temporal estratégico para que todas as pessoas e instituições sociais do mundo reflitam, debatam, conheçam, planejem e efetivem ações em prol da Saúde Mental e do combate ao adoecimento emocional dos indivíduos e das próprias instituições;
2 – Chamar a atenção para os temas da Saúde Mental e da Saúde Emocional nas vidas das pessoas;
3 – Aproveitar a simbologia do início de todo ano para incentivar as pessoas a pensarem a respeito das suas vidas, dos seus relacionamentos e do que andam fazendo para investirem e garantirem Saúde Mental e Saúde Emocional em suas vidas e nas vidas de todos ao seu redor;
4– Chamar a atenção das mídias e das instituições sociais, públicas e privadas, para a importância da promoção da Saúde Mental e do combate ao adoecimento emocional dos indivíduos;
5– Contribuir, decisivamente, para a construção, o fortalecimento e a disseminação de uma cultura da Saúde Mental”que favoreça, estimule e garanta a efetiva elaboração de políticas públicas em benefício da Saúde Mental dos indivíduos e das instituições.

Como o Janeiro Branco pode ajudar as pessoas?


1 – Colocando os temas da Saúde Mental e da Saúde Emocional em máxima evidência na sociedade.
2 – Construindo, fortalecendo e disseminando uma “cultura da Saúde Mental” na humanidade.
3 – Contribuindo para a valorização da subjetividade humana e o combate ao adoecimento emocional das pessoas.
4 – Contribuindo para o desenvolvimento e a disseminação do conceito de ‘psicoeducação’ entre as pessoas e as instituições sociais.

5 – Contribuindo para o desenvolvimento e a valorização de políticas públicas relativas aos universos da Saúde Mental.

O Veredas psicológicas - Caminhos de Crescimento fez sua humilde parte ao promover rodas de conversas gratuitas sobre diversos temas que estão se sobressaindo no campo da saúde mental. Terminamos janeiro com a certeza de que este movimento continuará e que uma de nossa missões é conscientizar as pessoas da importância do cuidado da saúde mental.


 




quarta-feira, 26 de julho de 2017

Seriado Gypsy - como não agir enquanto psicóloga(o)

Gypsy (como se nomeiam popularmente os ciganos em inglês) estreou na Netflix no último dia 30. O título brinca com a característica nômade cigana e com a terminação “psy”, diminutivo em inglês para tudo que se refira a psicologia. A série tem como protagonista Jean Holloway (Naomi Watts), uma bem-sucedida psicóloga de Manhattan.


O seriado não é ruim, pelo contrário é intrigante.  Ao longo dos episódios vemos cada personagem lidando com seus segredos e angústias, mas como não sou crítica de cinema, e sim, psicóloga, o que me chamou a atenção foi a atitude extremamente irresponsável de Jean enquanto psicóloga.

Jean rasga o código de ética do psicólogo, joga no lixo e toca fogo. Fica claro que Jean tem inúmeros problemas pessoais e isso reflete na sua prática clínica. Fica logo claro que Jean também deveria fazer psicoterapia. Por que? Vamos lá:

- Jean tem uma postura extremamente diretiva em relação aos seus pacientes, a ponto de obrigá-los a realizar determinadas ações, tudo com um jeito sutil de manipulação dos mesmos. Jean não sugere, ela manda. Não é o paciente que decide, é ela. Não há neutralidade em nenhum momento.

- Ela se envolve de forma clandestina com pessoas que fazem parte da vida daqueles que vão ao seu consultório serem atendidos por ela, especialmente aquelas pessoas que são alvos da obsessão de seus pacientes. Para isso, Jean cria uma segunda identidade/personalidade chamada Diane Hart, jornalista, que se aproxima dessas pessoas e continua a manipular a vida de seus pacientes fazendo amizades e até tendo relacionamentos amorosos. Assim como uma cigana, Jean passeia pela vida de seus pacientes e vira parte da vida deles, sem que eles saibam.

- Jean manipula o prontuário dos seus pacientes, escreve o que convém e queima o que acha que pode atrapalhar sua atuação enquanto psicóloga. Nas supervisões mente sobre a evolução dos pacientes, de novo fala o que convém, o que o supervisor quer ouvir.

Apesar de Jean fazer tudo o que um psicólogo não deve fazer, o seriado a coloca como um ser humano cheio de problemas, angústias e dificuldades, afinal ela tem vários segredos no seu passado, é mãe e está em um casamento que não vai muito bem. Sim, psicólogos, assim como todos os seres humanos, tem problemas, medos, ansiedades e é por isso que também precisam se cuidar, fazer psicoterapia, supervisões, etc. Coisas que Jean não faz e, em vez disso, se aprofunda cada vez mais na manipulação/obsessão da vida de seus pacientes.

Mau caráter? Transtorno mental? Ainda não sabemos, vem aí uma segunda temporada que promete explicar mais sobre a vida dessa psicóloga, mas, sem dúvida uma falta ética sem tamanho, passível de consequências graves se denunciada. Enfim, vale a pena assistir o seriado, pois este pode despertar diversas questões para serem discutidas sobre a ética do psicólogo e sua atuação profissional.


Texto por:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Trauma é destino?


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Quando pensamos em trauma ou evento traumático, imaginamos algo extraordinário. No entanto, eventos traumáticos são parte da vida diária. Peter Levine afirma: "Trauma é um fato da vida. No entanto, ele não tem que ser uma sentença de vida". Isto significa que essencialmente o trauma não é uma condição permanente, e pode ser curado ou transformado.

O trauma não reside no evento externo, mas em como o sistema nervoso processa o evento e o armazena no corpo. Com uma ameaça real ou imaginária, a amígdala, da parte límbica do sistema nervoso, é ativada. Se a ameaça é reconhecida como real e iminente, uma resposta de emergência em todo o corpo é acionada e os hormônios do estresse são liberados, encerrando funções não emergenciais e ativando respostas de corpo inteiro para lutar ou fugir. Se nenhum deles é possível, há um congelamento, uma imobilidade que armazena a energia potencial que era para ser usado na luta ou fuga. Os animais em estado selvagem descarregam automaticamente a resposta ao congelamento quando a ameaça termina e não ficam traumatizados. Os seres humanos podem descarregar essa energia, bem como tremer, chorar, etc. Eles também podem receber apoio de amigos, ajudantes, etc, que iriam levá-los à segurança e facilitar a descarga. A resiliência como resposta natural ou adquirida a partir de experiências anteriores facilitam o processo. 

No entanto, os seres humanos podem bloquear conscientemente ou inconscientemente a libertação de tal energia traumática. A energia que estava a ser mobilizada para a sobrevivência permanece presa no corpo como "resposta incompleta e deixada sem descarga, levando à desregulação do nosso sistema nervoso e ao desenvolvimento dos sintomas. De acordo com Peter Levine , a cura do trauma é um processo natural que pode ser acessado através de uma consciência interior do corpo e que nunca pode ser completamente curado até que também abordar o papel essencial desempenhado pelo corpo.

Portanto, sabemos que o trauma acontece de forma rápida e inesperada, é tão intenso que a pessoa não consegue lidar com ele, mas pode ser curada ou transformada em condições favoráveis ​​como acabamos de descrever, consistindo basicamente em resiliência, apoio e descarga de energia. O armazenamento e o congelamento de emoções não resolvidas provocadas por eventos adversos criam os impactos negativos a longo prazo das experiências traumáticas como desregulação do sistema nervoso e desenvolvimento de sintomas.

Trauma pode resultar de eventos que são claramente extraordinários ou catastróficos e de eventos que podem ser considerados comuns e ordinários, o que significa que eles acontecem com mais freqüência na vida diária.
- Eventos traumáticos extraordinários incluem o seguinte: guerra; Repressão por parte de governos ou partidos políticos; Perseguição religiosa e política; terrorismo; cativeiro; tortura; Homicídios; Assaltos; estupro; violência; Desastres naturais.
- Eventos traumáticos comuns incluem o seguinte: acidentes de carro; Quedas Lesões graves; procedimentos médicos; Doenças; Febre alta em bebês; Exposição a substâncias tóxicas; Violência que pode ser com a própria pessoa ou testemunhado; Perdas súbitas e inesperadas; Separações familiares, asfixia; Afogamento, distúrbios pré e perinatais e violência sexual.

Se incluímos eventos traumáticos ordinários, poderíamos dizer que quase todos passaram por experiências possivelmente traumatizantes. Se incluímos aqueles com trauma secundário, isto é, aqueles que podem ser traumatizados por testemunhar cenas traumáticas, podemos afirmar que toda a população é propensa a traumatização.
Resultado de imagem para liberdadeTrauma afeta povos diferentes em maneiras diferentes. As pessoas muitas vezes recebem críticas por não se recuperar suficientemente rápido do evento traumático que experimentaram. Este é um fardo adicional que a pessoa tem que carregar. É importante deixar as pessoas traumatizadas saberem que seu sofrimento envolve tanto sua resposta emocional como também uma resposta fisiológica; Ninguém deve ser julgado com base em sua reação em comparação com as reações de outras pessoas. Além disso, o fato de que eles podem ter sido potencialmente incapaz de ajudar ou resgatar alguém pode causar trauma experimentado como culpa e desequilíbrio emocional. As pessoas também precisam entender que o "congelamento" (também conhecido como imobilidade tônica) não é algo que eles podem controlar voluntariamente - o processo é sistematicamente ativado para evitar estresse adicional.


Texto escrito por:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.

domingo, 14 de maio de 2017

Como lidar com a Síndrome do Ninho Vazio?

Uma de nossas sócias, a psicóloga Luiza Braga,  foi convidada pelo Jornal Diário do Nordeste, de grande circulação na cidade de Fortaleza, para falar sobre a Síndrome do Ninho Vazio e como lidar com ela.



Abaixo está o link com o texto na íntegra.
Abraços e um Feliz Dia das Mães!

 http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/vida/perdas-e-ganhos-na-nova-dinamica-familiar-1.1752223 

sábado, 22 de abril de 2017

Você sabe reconhecer um relacionamento abusivo?

Algumas pessoas provavelmente logo vão responder que sim. Afinal, como não reconhecer um abusador? Como não reconhecer um relacionamento abusivo? "Óbvio que sei identificar", algumas vão dizer. Porém, não é raro chegar ao consultório pessoas, em sua maioria mulheres, que não sabiam que estavam em relacionamentos abusivos.
Por amar demais a outra pessoa, às vezes por questões de auto estima, a pessoa não consegue identificar o que estava acontecendo com ela. Algumas vezes, a primeira resposta é: ele não me bate. 

O que caracteriza um relacionamento abusivo não é só a violência física, mas há também a violência moral, psicológica, sexual, patrimonial e econômica. Muitas pessoas não se dão conta de que o abuso possui diversos lados, não apenas o físico, e acabam ficando presas em relações complicadas.
Geralmente, uma relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal estar. E muitas vítimas usam isso como desculpa: se ele não era assim, ele vai mudar; eu acredito na mudança; vou salvá-lo dessa situação; ele está apenas passando por um momento difícil na vida. 
Aqui estão algumas formas que a pessoa abusiva pode agir e você não se dar conta de que é um abuso:
  • Zomba ou constrange você na frente dos amigos e da família
  • Minimiza suas conquistas ou não incentiva você a conquistar seus sonhos
  • Faz com que você se sinta incapaz de tomar decisões
  • Usa da intimidação, culpa e ameaças para obter sua complacência
  • Diz o que você deve ou não vestir
  • Fala como deve deixar ou pentear o cabelo
  • Diz que você não é nada sem ele ou que ele não é nada sem você
  • Te trata de maneira grosseira sem o seu consentimento, beliscando, agarrando, empurrando ou até agredindo
  • Faz várias ligações por noite ou aparece para garantir que você está onde disse que estaria
  • Usa as drogas e álcool como desculpa para dizer coisas indelicadas ou para abusar de você
  • Te culpa pela maneira com que age ou se sente
  • Faz pressão para fazer sexo, mesmo que você ainda não se sinta preparado
  • Dá a sensação de que “não há como sair” do relacionamento
  • Evita que você faça outras coisas que gosta, como ficar perto da família e de amigos
  • Não deixa que saiam de um lugar após uma briga ou abandona você em algum lugar após um desentendimento, só para “ensinar uma lição”
É difícil definir quando um relacionamento é abusivo, porém, os principais indicativos de uma pessoa abusiva são: ciúme e possessividade exagerados; controle sob as decisões e ações do parceiro; querer isolar o parceiro até mesmo do convívio com amigos e familiares; ser violento verbalmente e/ou fisicamente; e pressionar ou obrigar o parceiro a ter relações sexuais.
 As principais dificuldades de sair desse tipo de relacionamento costumam ser:
- Emocionais e afetivas: insegurança e incerteza diante do que virá, medo de ficar desamparado (a), medo de reações provenientes do parceiro, crença de que o parceiro poderá mudar as atitudes e “ser uma boa pessoa”, medo de ficar sozinho (a), crença de que não conseguirá se restabelecer e seguir em frente.
- Questões legais e jurídicas: desgaste relacionado ao tempo e à burocracia, falta de conhecimento por parte das vítimas sobre o que ocorre entre a denúncia e a sentença.
- Sociais: a relação abusiva pode ter isolado a vítima e a mesma pode estar distante dos seus familiares e amigos.
- Econômicas: principalmente quando a vítima depende do parceiro.
Somado a tudo isso, na Pesquisa DataSenado 2013, 30% das mulheres disseram não confiar nas leis e nas medidas formuladas para protegê-las da violência. Somado a tudo isso, a nossa sociedade persiste na cultura da culpabilização das vítimas.
Pode ser difícil sair desse tipo de relacionamento, mas não impossível. Procurar ajuda psicoterápica, grupos terapêuticos, jurídica, psiquiátrica; além de familiares e amigos de sua confiança, podem facilitar bastante esse processo. O importante é lembrar que sempre há uma saída.



Escrito por:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.




segunda-feira, 10 de abril de 2017

Por que é preciso ter cuidado ao assistir Os 13 Porquês?




Quando li o livro, pela primeira vez estava viajando. Tinha decidido passar um mês fora e li por pura diversão. Agora que tive a chance de assistir ao seriado, fiquei com medo de como as pessoas, especialmente as que estão fragilizadas, vão entendê-lo. A primeira ideia é super bem vinda: vamos falar sobre suicídio! Algo extremamente necessário atualmente. Mas, à medida que fui assistindo à série, minha preocupação foi aumentando.

Aí vem os Spoilers, muitos spoilers! Se você não assistiu, não leia o que escrevi.


Primeiro vem a questão das fitas. Cada fita é um motivo pelo qual Hannah decidiu se matar e está relacionada a diferentes pessoas. Entendi que as fitas foram gravadas como uma forma de se vingar contra as pessoas que a tinham feito mal. A ideia é: vou me matar, mas vou levar todos comigo.

Ai vem o questionamento: até onde somos responsáveis pelo suicídio de alguém? Essa questão de encontrar culpados me preocupa, até porque vejo essa questão quase todos os dias no consultório, especialmente por quem está passando por situação parecida. 

Não à toa que um dos personagens também tenta suicídio e outro tem um baú cheio de armas de grande porte e, logo depois, começa a ver fotos de alunos como se fossem possíveis alvos para uma chacina.

Não podemos negar que o seriado levanta questões importantes sobre bullying, assédio moral e sexual, machismo, relação da escola com os alunos e dos pais com os filhos. Mostra como estas relações estão cada vez mais distantes e como cada vez mais aumenta o desrespeito entre as pessoas. 




Também ouvi várias pessoas falando sobre o aumento de ligações para o CVV. Em primeiro lugar, é claro que as ligações aumentariam: este é o efeito esperado de uma campanha de divulgação. Em segundo lugar, as ligações comprovam também que "Os 13 Porquês" tem um imenso potencial para disparar gatilhos. Gatilhos esses perigosos e que podem levar ao suicídio.

Ao encenar com detalhes o suicídio de Hannah, a série vai de encontro as várias as recomendações feitas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à forma com que o suicídio deve ser tratado pela mídia. Aliás, duvido que eles tenham lido algo sobre como a OMS recomenda tratar questões relacionadas ao suicídio.

Quem está em depressão grave, pode confirmar na série que a única saída é mesmo o suicídio. Hannah em nenhum momento procura ajuda de verdade. De certa forma ela quer que as pessoas cheguem até ela para salvá-la, o que na maioria das vezes é impossível, pois não sabemos o que se passa dentro da cabeça do outro. Ela tenta falar com colegas que não a aceitam ou que já fizeram mal a ela, como conselheiro da escola que não tem formação profissional e a conversa com seus pais é extremamente superficial. O final é extremamente simbólico quando ela fala: "Eu não me importo mais, e vocês não se importaram o suficiente". Novamente, a questão da culpa.

Ficaria muito mais tranquila se o seriado mostrasse que há, sim, saídas ao invés do suicídio. Sim, há angústias, maldades, mas que podem ser superadas. Locais onde a personagem poderia procurar ajuda de psicólogos, psiquiatras, grupos de apoio, igreja, etc., ao invés de mostrar o suicídio de Hannah de forma bem gráfica. 

No final, para mim, a intenção do seriado não vingou. Em vez de dar esperança às pessoas que estão com a vida por um fio, ele mostra que o melhor a fazer é arrumar culpados e depois se matar. A ideação suicida já é, por si só nociva. Reforçá-las com narrativas irresponsáveis é algo não só desaconselhável, mas também perigoso.

Resumindo: se você está bem psicologicamente, assista a série. Mas se você está mal, com depressão grave e ideação suicida, não assista e procure ajuda profissional.


Telefone CVV: 141



Texto por:

Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.




















domingo, 19 de fevereiro de 2017

Amor e Solidão

Quem está sozinho se sente, vez por outra, vazio, incompleto; somos uma unidade que não se sente como tal: parece que nos falta uma parte!

O medo de ficar sozinho tende a influir negativamente nas escolhas: costuma gerar encantamentos precipitados para acabar logo com o vazio.

Conseguir ficar bem sozinho é aprendizado penoso, mas extremamente útil: vários serão os momentos em que todos nós estaremos nessa situação.

Fica melhor sozinho quem desenvolve interesses intelectuais de todo tipo: os que gostam de ler, assistir filmes, séries de TV, mundo virtual.

Fica melhor sozinho quem sabe organizar uma rotina de atividades físicas, trabalho, tarefas do dia a dia, assim como manter vida social rica.

Não deixa de ser chocante pensarmos em nossa condição: como é difícil nos sentirmos plenos em nós mesmos, condição para a autossuficiência!

- Livro "Ensaios sobre o Amor e a Solidão" 
   Autor Flávio Gikovate